segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A mocinha que não nasceu ontem

Matéria: A mocinha que não nasceu ontem
Matéria feita em: 31 de maio de 2006 pela Revista Veja

No início nem nome tinha. Quando trocou a sólida carreira no teatro para fazer participações na TV, a atriz, cantora e bailarina Totia Meirelles virava "amiga um" ou "amiga dois". Já havia feito sucesso no palco em A Chorus Line, Noviças Rebeldes, Sweet Charity e Metralha, mas na telinha era uma novata. A situação começou a mudar quando virou a amiga de Vera Fischer na novela O Clone. No trabalho seguinte, América, a surpresa. "Descobri que meu personagem tinha até cenário próprio! Foi um tremendo upgrade", conta. O romance entre a sofrida Vera e o deficiente visual Jatobá (Marcos Frota) mobilizou o público. Embalada por esse sucesso, Totia Meirelles desembarcou em Cobras e Lagartos, novela das 19 horas, como Silvana, par romântico de Francisco Cuoco. "Aparecia até uma cena minha nas chamadas que anunciavam a novela", diz ela, rindo.


Aos 47 anos, Totia – ou Maria Elvira, como está na carteira de identidade – acha graça de seu sucesso na TV. "Agora as pessoas me chamam na rua pelo nome", diz. Mas é quando fala de sua carreira no teatro que seus olhos brilham. "Nunca estive tanto tempo afastada de um palco", reclama. "Tanto tempo" significa desde janeiro, quando fez uma participação especial no musical Lado a Lado com Sondheim, no Teatro Glória, dos amigos Cláudio Botelho e Charles Möeller. São vinte anos de palco que começaram quase por acaso, quando Totia, professora de jazz na academia de Lennie Dale e Marly Tavares, resolveu fazer um teste para a montagem de A Chorus Line. Passou e entrou em crise. "Fiquei me perguntando se era aquilo mesmo que eu queria fazer", lembra.
Pelo visto era. "Quando montamos Company, nós a chamamos para fazer um teste para Johanne, personagem que exige uma atriz com peso dramático e musicalidade. Na hora, soubemos que o papel era dela", lembra Cláudio Botelho, diretor musical e seu colega de elenco. A aplicação da atriz extrapola a dedicação aos ensaios, conta o diretor Charles Möeller. "Um dia, durante a turnê paulista de Company, encontrei Totia no palco limpando as portas brancas do cenário com detergente, porque elas tinham se sujado no transporte." Cristal Bacharach foi escrita por Charles especialmente para ela. Totia interpretava Laura, mãe de cinco filhos, cada um de um casamento, às vésperas de seu sexto matrimônio, tudo embalado por vinte canções de Burt Bacharach, como Close to You e Raindrops Keep Falling on My Head.


A volta ao teatro vai ter de esperar. Num sábado desses, gravou 24 cenas no Projac, em Jacarepaguá, começando às 8 da matina. "Vou dirigindo e segurando uma bolsinha de gelo para diminuir as olheiras", diz, com ar divertido. No tempo livre, anda de moto para cima e para baixo, entre uma aula de dança e uma sessão de malhação. Passa alguns dias no sítio em Miguel Pereira, onde vive o marido, Jaime Rabacov, com quem está casada há quinze anos. "O sonho dele era morar em cidade pequena, mas depois de três dias lá eu canso. Cachorro vai, cachorro vem. Nada acontece", ri. Mais à vontade diante dos holofotes, lembra quando começou o fascínio: aos 6 anos, depois de assistir ao balé Romeu e Julieta, no Municipal. "Eu me apaixonei pelo Romeu", recorda-se. Levada aos camarins, viu que Romeu era careca e narigudo. "Naquele momento descobri a magia do palco", conclui, com uma estrondosa gargalhada.

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